Colelítíase ou Pedras na Vesícula: tudo o que você precisa saber
O surgimento de pedras na vesícula biliar, também chamado de colelitíase, é uma das doenças mais comuns do aparelho digestivo. Estima-se que cerca de 10% da população adulta venham a ter cálculos biliares (podendo chegar a até 20% em pacientes acima de 65 anos de idade).
Mas afinal, o que são pedras na vesícula?
A vesícula biliar é um órgão de armazenamento da bile que recebe esse líquido produzido pelo fígado e o envia para as vias biliares até que seja liberada no intestino delgado (figura abaixo).
A bile, por sua vez, é como um suco bastante concentrado, que contém bile, sais biliares, colesterol, água e uma substância chamada lecitina. Quando há um desequilíbrio entre esses elementos, há o surgimento das pedras (ou cálculos) biliares.
Quais os fatores de risco?
Dentre os principais fatores de risco para surgimento da colelitíase, podemos citar:
– Sexo feminino: mulheres tem até 3x mais chances de ter colelitíase do que os homens
– História pregressa de gestações e mulheres em idade fértil (os hormônios femininos levam a uma predisposição à formação de cálculos de colesterol);
– Idade: a partir dos 40 anos há aumento da incidência
– Obesidade
– Perdas de peso rápidas (após cirurgia bariátrica, por exemplo)
Há ainda outras situações que se correlacionam fortemente com o surgimento dos cálculos biliares:
– Dislipidemia
– Diabetes
– Anemias hemolíticas crônicas (esferocitose e anemia falciforme, por exemplo)
– Alguns tipos de cirurgias intestinais
Quais problemas podem surgir em quem tem colelitíase?
Ao contrair-se, a vesícula pode ou não enviar um desses cálculos para a via biliar. Daí surgem os potenciais problemas envolvidos na colelitíase:
1 – Cólicas biliares:
São dores no quadrante superior direito do abdome, do tipo cólica (pacientes relatam como uma sensação de aperto ou “nó”) após refeições com alimentos ricos em gorduras e carboidratos. Duram de minutos a horas e podem irradiar para o dorso.
2 – Colecistite aguda:
É a inflamação aguda da vesícula, geralmente devido à obstrução por um cálculo, e pode se associar a infecção da mesma
3 – Coledocolitíase e colangite:
A presença de cálculos na via biliar pode levar a obstrução da mesma e ao surgimento da icterícia (olhos e pele amarelados, urina “da cor de coca-cola” e fezes esbranquiçadas. Caso haja uma infecção associada a esse processo, temos a colangite, que é uma EMERGÊNCIA médica devido à alta letalidade quando não tratada
4 – Pancreatite aguda biliar:
É a principal causa de pancreatite. Ocorre quando um cálculo biliar, ao migrar, obstrui a região da papila, na junção do pâncreas com o duodeno. Também tem elevada gravidade quando não-tratada.
Quais os sintomas e sinais de quem tem pedra na vesícula?
O sintoma mais comum é a cólica biliar, como falamos acima. No entanto, também pode haver náuseas, vômitos, mal estar, intolerância a alimentos gordurosos. Em casos complicados, pode ainda haver icterícia, febre, calafrios e dor abdominal difusa.
Como é feito o diagnóstico?
Muitas vezes, o(a) paciente não tem sintomas, mas é submetido(a) a exames de rotina ou por outros motivos, levando ao diagnóstico “incidental” de colelitíase.
Sem dúvidas, o melhor exame para o diagnóstico é a ULTRASSONOGRAFIA DE ABDOME SUPERIOR (USG). Esse exame tem sensibilidade e especificidade de cerca de 95% e é MELHOR que outros exames como a tomografia de abdome e a ressonância magnética, além de não necessitar de irradiação do(a) paciente.
Em alguns casos, quando há uma clínica altamente suspeita para colelitíase, mas o USG não demonstra cálculos, devemos suspeitar que haja pedras menores que 5mm. Nessa situação, podemos lançar mão da ECOENDOSCOPIA, na qual é realizada uma endoscopia em que há um probe de ultrassom na ponta do aparelho, permitindo maior sensibilidade por “ver mais de perto” a vesícula e eventuais cálculos.
Quando pensar em cirurgia?
A grande maioria das pessoas jamais terá uma crise devido às pedras na vesícula. No entanto, não existe medicação efetiva ou alguma outra forma de remover os cálculos que não seja através da cirurgia, a chamada colecistectomia, na qual removemos a vesícula com as pedras em seu interior.
Formalmente, em casos sintomáticos ou com alto risco de complicações (pacientes diabéticos ou imunossuprimidos, por exemplo), desde que o risco cirúrgico não seja excessivamente elevado.
No entanto, com a cirurgia laparoscópica ( feita com “furinhos”) e melhoria técnica, o risco cirúrgico tem sido cada vez menor e menos importante do que o risco de ter complicações pela colelitíase, como colangite e pancreatite, por exemplo. Pacientes costumam receber alta no mesmo dia da cirurgia ou, no máximo no dia seguinte, de modo que mesmo em casos assintomáticos, devemos avaliar riscos e benefícios da indicação da cirurgia.
Adaptado de Mayo Clinic
Como é a vida após a cirurgia?
Nos primeiros dias após a cirurgia, pode haver um pouco de empachamento, constipação ou mesmo diarreia. No entanto, a médio-longo prazo, a vida é praticamente normal!
Como a vesícula apenas ARMAZENA a bile para secretá-la no duodeno, essa continuará sendo produzida pelo fígado. O que muda é que depois da cirurgia, passará a ser secretada continuamente no intestino delgado.
Em uma pequena parcela dos pacientes (menos de 9%), pode haver uma aceleração do trânsito intestinal pela presença contínua dos sais biliares em seu interior. Há ainda uma maior tendência a evacuações amolecidas quando o paciente ingerir grandes quantidades de gordura numa mesma refeição, por não haver bile suficiente, naquele momento, para dissolver todos os lipídios.
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