Toma algum “prazol” e continua com queimação e refluxo? Então você PRECISA investigar!
O uso dos inibidores da bomba de prótons (IBP’s) é um dos pilares do tratamento da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). No entanto, entre 19 e 44% dos pacientes que usam os “azóis” (omeprazol, esomeprazol, pantoprazol, dexlanzoprazol…) tem pouco ou nenhum efeito de melhora em relação aos sintomas de queimação e refluxo.
Quando isso ocorre, temos de avaliar se o paciente se encaixa em algumas possibilidades:
1 – Tomando errado
Os IBP’s são medicações que devem ser ingeridos em jejum para aumentar sua efetividade. Idealmente, para pacientes que fazem uso uma única vez por dia, este deve ser feito pela manhã cedo, pelo menos 30 minutos antes do café da manhã.
Nos casos em que são necessárias duas doses, a segunda deve ser feita ANTES do jantar. Usos logo após comer ou antes de dormir não são recomendados.
2 – O refluxo não é ácido
Por definição, a doença do refluxo é uma doença MECÂNICA! Há uma falha no músculo da transição entre o esôfago e o estômago, a cárdia, em que o conteúdo do estômago e porções iniciais do intestino retornam para o esôfago. Quando o conteúdo ácido entra em contato com a mucosa do esôfago, surge a esofagite de refluxo.
Quando usamos o IBP, o conteúdo fica menos ácido e a mucosa passa a ser menos agredida, permitindo a cicatrização da esofagite e a melhora dos sintomas, mas ainda há o retorno das secreções. Assim, pode ocorrer de sintomas como tosse, pigarros e a sensação de incômodo na garganta (o globus faríngeo) não melhorarem.
3 – Seu organismo metaboliza muito rápido o remédio
Uma parcela considerável da população brasileira tem em seu metabolismo a capacidade de degradar rapidamente as medicações antirrefluxo no fígado. Assim, doses comumente usadas e a posologia habitual de 1 vez por dia podem ser insuficientes nessas pessoas.
4 – PODE NÃO SER REFLUXO
Sim! Nem tudo que causa queimação no estômago e sintomas dispépticos é refluxo. Dentre os diagnósticos diferenciais, temos a esofagite eosinofílica, pirose funcional, hipersensibilidade ao refluxo ácido, acalásia e até mesmo somatização em casos de transtorno depressivo e ansiedade. Há critérios para diagnosticarmos refluxo. Sair por aí tomando um “prazol” sem acompanhamento não é o mais recomendado.
5 – Existe uma hérnia de hiato associada
Novamente, lembre que o refluxo vem de problemas mecânicos. Quando há uma hérnia de hiato, o estômago ou outros órgãos podem subir para o tórax e isso pode piorar o refluxo, por dificultar o esvaziamento do esôfago.
Estes são somente alguns exemplos de porquê o refluxo não melhora mesmo com o uso do omeprazol (ou seus similares). Nos casos em que suspeitamos de algumas dessas causas, devemos prosseguir com nossa investigação.
E como é feita a investigação?
Na suspeita de doença do refluxo gastroesofágico refratário, realizamos uma nova anamnese detalhada para tentarmos flagrar eventuais erros na adesão ao tratamento.
Mudar doses ou tipos de Inibidor de bomba de prótons também podem ser uma alternativa.
Quando isso já foi feito e ainda assim não tivemos resposta, partimos para uma avaliação prolongada do refluxo gastroesofágico, com exames como a pHmetria esofágica ou impedâncio-pHmetria esofágica de 24h, que são considerados o padrão-ouro para o diagnóstico dessa doença.
Outros exames, como a pesquisa endoscópica de esofagite eosinofílica e exames de imagem mais detalhados, como uma tomografia de tórax também podem ser úteis.
Diante desses dados é que podemos definir se trata-se mesmo de um refluxo gastroesofágico e, quando positivo, se há ou não indicação de correção cirúrgica.
Cansado de tentar tratar refluxo sem melhora? Fale conosco
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